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23 fevereiro, 2012

Sobre amor



E então do que seria feita a vida dos cantores sem o amor das canções? É só um laço partido, amor do mais mal resolvido, do chifre ou da saudade.
O que seria então dos poetas? Sem o amor que mais inspira... Cada qual sabe o que move sua inspiração. E afinal, qual é a dessa vontade que surge e vai desaparecendo como fumaça no ar? São mais perguntas e menos respostas.
E esse tal do amor que é incógnita, que na verdade da sua face, quanto mais sabes da vida, menos você se apaixona. Pela arte, pela dança, música, da tinha, alma, tá tudo lá dentro e se reflete pelo semblante, é tudo feito do amor também.
Onde é que tá então? Vai lá que estão mandando procurar, tá na rua que andas todos os dias, no metrô lotado, bem no último sorriso dado pelo último cavalheiro que sobrou nesse mundo moderno, que as forças maiores fazem do acaso uma deliciosa surpresa.
Está também no trânsito, são os sinais, dizendo que vem, vai e trás, mas pode ir além, vai mais adiante, sem medo, que esse encontro irresistível me disse que tem um gosto bom. Vai, que a vida não te espera. Deixa as sensações te invadirem, elas que formam cores imagináveis, um abraço no túnel escuro, um beijo no carro, a luz de algum lugar, o segredo fica sempre nos detalhes.
Está ainda mais no olhar, que puxou do pai aqueles olhos tão profundos, tá no não particular, seguro da boa música e do mar que navega. Batalha naval diz onde jogar e onde não há, fique bem livre, agora já virou um mergulho, profundo, o azul límpido e bem refletido, é uma fotografia, está também no reflexo do mar nos seus óculos escuros jogados na areia pra um outro mergulho.
Vente vem, ventou lá em cima, e estou aqui, ventou nos cabelos mais uma vez e que seja feliz. Foi assim, ouvi bem dizer, procurei saber bem sobre o que ele lhe disse. E que seja feliz.

20 fevereiro, 2012

Improvável, mas não impossível



O que aconteceu? Foi aquela noite? Os olhares? A proximidade dos corpos? Os risos altos ou as carícias incompreendidas? Onde fomos parar?
Quantas perguntas que minha dor de cabeça não deixa responder, olhar pro lado ao acordar e um cheiro ser capaz de invadir e ver quem está alí. Amor e pecado mais uma vez se misturando, somos fortes não é?
Somos fãs da mesma música... Ah, então foi aquele show no final da primavera que fomos juntos? Suas palavras não saem da minha mente. Foi aquele abraço com mãos bobas no final de janeiro? O medo da falsa traição em fevereiro? Todos nós, tanto somos quanto estamos, onde é que eu parei de olhar pra dentro e me deixei apenas sentir? Tanta intensidade, meu sorriso perfeito não teria deixado. Foram seus efeitos, tenho certeza.
É que essa pequena porcentagem de chance representa tudo de novo, as mesmas nossas madrugadas que ninguém ousa descobrir. Cura meu mal humor, faz o riso, tudo fácil, é sua presença. Não importa se perto, se longe, tá do lado que eu sei.
Puxa-me, leva, o carro vermelho espera do outro lado da rua, a música, cheiro, estrada enorme de sensações, até o motel beira de estrada, tudo está ao nosso favor e eu não me privo de nada que eu não queira. Vem, tudo é urgência. Somos tão errados, e quero segredo. Vamos sair gritando falsas juras enormes pra quem não nos conhece que eles não ligam. Vamos enganar a todos, que eles não precisam saber, o perigo nos instiga, nos anima, intriga, e sabemos que tudo que é perigoso é mais gostoso. Somos nós, novos, os mesmos, laços renovados, perfeitos em quem somos.
Marcante como comerciais de fragrâncias, olhar de galã de novelas, beirando uma perfeição inacessível. A música diz que te ver e não te querer é improvável e impossível. E eu digo que te ter é cada dia mais improvável, mas não impossível.

07 fevereiro, 2012

Retrato




Vem, escalando o lado do cérebro que corresponde á memória, uma fotografia.
Antes dessa foto existir tem um caminho pra chegar, não é longe e muito menos distante, é só seguir reto a estrada como se nunca fosse acabar, mas logo, se prestar bem atenção, tem um desvio à direita e preparem-se senhores passageiros, coloquem seus cintos de segurança e estejam prontos pra tudo o que puder vir, de tudo tão mágico, é um pedaço da estrada que ninguém conhece.
Nela estão pessoas cheias de sorrisos, um belo cenário cheio de natureza, amizades, namoros, traições, antigos amores, antigos olhares. Contém histórias que nem as mais sórdidas paredes de Marisa Monte poderiam contar, mas ainda acalma, acolhe a alma, e ajuda a viver.
Na época de revelada, essa fotografia tinha um toque incomum, mas com uns anos que se passaram tudo se faz riso da aparência antiga, são nossas vestes, ou até poucas delas, são nossos óculos escuros, e garrafas vazias.
Agora, tudo o que surge é uma nova foto, digam "x" que a novela é outra, tem saudade, tem um calorzinho no coração e tem nojo também. Nessa nova foto podemos ver apenas o que restou, o lugar parece o mesmo, mas agora é um banco de madeira no lugar das cadeiras de plástico e tem também tapetes coloridos, um belo gramado bem verde, e duas poltronas enormes. Existem pessoas em pé e sentadas, todas sorrindo, felizes e implacáveis, o destino e o tempo os tornou fortes.
Tem uma mulher, usando um vestido vermelho curto e bem leve, mas classudo ao mesmo tempo, cabelos longos e ondulados envolvem sua face e seu sorriso tem dono, do lado dela, um homem trajando camiseta branca e um shorts cáqui, seu marido, o moreno alto bonito e sensual finalmente solucionou seus problemas e lhe deu 2 filhos e 2 cachorros.
Do lado da mulher de vermelho, está outra, mais morena, com um vestido amarelo e uma flor laranja nos seus cabelos de Taís Araújo, também do lado do seu homem maravilhoso, usando azul, lhe deu mais vida, voracidade e trigêmeos.
Também podemos ver uma mulher loira, do lado esquerdo da foto, em pé, apoiando uma das mãos no banco e outra na cintura, usa um sorriso enorme com saias longas e bem floridas, do seu lado, o seu futuro, olhos cor de mel que lhe guiaram bem, ele está abraçando-a por trás, com as mãos em sua barriga, feliz com o que vem pelo caminho.
E em uma das poltronas tem um homem loiro, feliz, com uma criança no colo, o pai solteiro parece ser. Na outra, uma mulher de cabelos castanhos e bem repicados, sorriso quadrado e com um poodle no colo. Alguém mais duvida que uma nova família pode nascer?
Retrato dos futuro, daqui 15 anos, com futuros promissores ou não: Senta que lá vem história... Vamos sempre desenhar mais uma vaga, um carro na garagem e um banco, mais alguém pode chegar.   

02 fevereiro, 2012

Vazio


Nunca vou saber como começar a falar, é forte demais e doeu. Mas hoje não quero lidar do passado, é pra dizer que tá cada vez mais presente essa ausência que você me faz.
Em cada frase sobre pertencer, em casa, na rua, nos olhares, sobre você, no meu carro estacionado e quando ligo o rádio procurando uma estação pra que você cante a nossa música. Tá no vermelho da unha, da geladeira e da sola do meu sapato, no branco dos sorrisos que você deu, no azul da sua camisa amassada, no cheiro do seu perfume que sinto mesmo quando ninguém está usando perto, no preto que lembra seus cabelos, e seus olhos profundos me olhando, está mais no azul quando vejo o mar todos os dias e lembro de ver quando você surfava. No futebol com seus amigos, nos antigos, e agora nos novos, penso que eles deviam ficar juntos, como irmãos, coisa que você estragou em suas amizades.
Está ainda na noite com brilho das luzes intensas, lembra um celular velho e uma boa conversa, está nas horas que  ficaram gravadas, tá na minha cabeça e minha memória é poderosa. Tá no coração, mas a razão de todos os tempos nunca me deixou  dizer tantas coisas que nunca pude dizer nos seus olhos, mas já fui mais corajosa contigo, era força quando estava forte, e dor quando estava fraco, era reflexo de ações e pensamento, um tipo de amor que não passava, uma febre, doença sem cura descoberta.
Mas aí o tempo foi passando, devagar mais foi, e aos poucos foi demolindo as muralhas que você tinha construído pra me defender do mundo, foi quebrando os tijolos junto com uns pedaços do coração, sempre soube disfarçar bem, ninguém nunca soube que foi tanto assim que doeu cada mentira mal dita, cada "não" e qualquer fraqueza sua nos seus atos sórdidos. Me faltou força pra te dar a mão e levantar mais uma vez, eu não conseguiria, tinha lutado demais, estava sem ar, em pedaços. E sei que perguntou por mim quando me avistou andando apoiada nas paredes, eu já não tinha alicerces e nem colunas pra me sustentar, já não tinha você.
Sei de coisas que nunca souberam, apoiei seus novos amores mesmo sendo mais do que todos, queria sua felicidade e abriria mão da minha facilmente. Mas você sempre foi o tipo de pessoa revoltado com a vida, quem nunca quis nada e que tinha um passado escondido e um meio futuro próximo de mim, sempre estive do seu lado, é que o desconhecido causa curiosidade, o medo provoca e o perigo excita. Sempre foi assim, cada pedaço do caminho que tive que ir em frente, fui e sem medo, queria mais porque você foi mais que tudo. Parece loucura, e foi loucura.  
Águas passadas só irão acordar alguém, e como o ditado diz, também não movem moinhos, mas o tempo deu um vôo enorme, fui parar de volta no meu carro com malas prontas, todas as minhas coisas divididas em mais de 20 caixas, pedaços meus, coisas suas, e um lenço meu ainda com seu cheiro de tantos abraços demorados e pesados. Durante meu caminho todo não choveu, mas eu chovi por dentro, o rádio decidiu tocar todas as músicas que me carregavam lembranças, de um outro passado, suas e de todos que tinha deixado pra trás, de repente um grande filme com cores e pessoas começou a fluir na minha mente. Continuei na estrada, ouvi dizer que é sempre em frente que vamos, nunca olhar pra trás.
Então, o tempo avançou mais, mostrou sabores novos, e uma procura diferente, mostrou gostos novos e cheiros melhores, encontros, e mais sabores novos, mais conversas, coisas pra experimentar, uma história sem páginas suas pra que eu deixasse a marca do meu batom no fim da folha.
E em cada nova pessoa que encontrei, busquei tentar sentir, não ir muito atrás, não cometer os mesmos erros, mas somos humanos, a carne acaba sendo fraca e coração vagabundo. Porém, não caí. 
Mas temos um trato, eu comigo mesma, estamos numa guarda, nada armada,  está lá com portas, janelas e um sorriso aberto, pra quem quiser entrar e conhecer. Não me trate como um objeto e muito menos finja que não se importa, novos amores surgem também com o tempo, assim como leva tempo para os antigos e verdadeiros irem embora, mas passa, passou... É que hoje apenas me deu um vazio, resolvi te procurar dentro de mim.