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03 março, 2012

Cinza



Era de manhã quando notei que você já não estava mais do meu lado na cama, o dia estava claro, bem azul, limpo e o mar lá fora dava ânimo, sem nada de ressaca ou oblíquo e dissimulado.
Tomando os cuidados matinais como rotineiros, aos poucos, depois de todos os dias não te tendo mais ao meu lado na cama, percebi que tudo estava se tornando automático. Era o jeito de arrumar o cabelo, o passar do rímel ou o escovar os dentes, tudo robotizado. Havia perdido a naturalidade de sempre, os risos incertos, os beijos sonolentos, e os sorrisos espontâneos. O café deixado na caneca favorita sobre a mesa, e o bilhete. Detalhes pequenos, e outros grandes também, que nem toda aquela casa poderia guardar, tanto sentimento junto, dos bons e dos piores, que nem aquela cama poderia aguentar. Era pra repor energias, se carregar, sopro de amor, pequenos sussuros, nossas histórias, que hoje já nem importam.
Meu amor, tudo bem, eu sei que não foi sua escolha, mas temos mais tempo? Queria saber porque paramos de agir daquele jeito. Será que foi a maneira de gritar em todas as brigas por uma toalha no chão no meio da minha bagunça? Pode ter sido então, culpa daquele casaco cinza que joguei sobre você na última discussão, talvez a cor dele tenha resolvido combinar com a daquela nuvem que vinha vindo, era a tempestade. Acabou tudo alí, com vidros espalhados, lágrimas caídas e pedaços de coração por toda parte.
Os dias voltaram a ser azuis como sempre foram, eram meus olhos cegos de culpa que não se permitiam ver com clareza quem éramos e o que fizemos conosco nesse tempo todo. Elemento essencial esse tal de tempo que faz tudo ser doloroso e tão forte no final.
Não vamos enumerar momentos que foram bons e fizeram falta, eles agora já nem cabem mais nas possibilidades, não podemos nos enganar, mas se não for mais do que quero ser, então prefiro continuar com meus dias cinzas, pra combinar com o casaco.
Vou vivendo e morrendo aos pouqinhos todos os dias, somos nós não é? Nunca me permitiria voltar pra onde eu estava, mas quero sempre lembrar de quem era, pra saber quanto mais posso ser, sendo que não temos limites. E mesmo que entre dias cinzas, viver direito é o que nao pode faltar.
   

Um comentário:

  1. Seguindo aqui também.Lindo texto... deu um aperto no coração de identificação.

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