Era de
manhã quando notei que você já não estava mais do meu lado na cama, o dia
estava claro, bem azul, limpo e o mar lá fora dava ânimo, sem nada de ressaca
ou oblíquo e dissimulado.
Tomando
os cuidados matinais como rotineiros, aos poucos, depois de todos os dias não
te tendo mais ao meu lado na cama, percebi que tudo estava se tornando
automático. Era o jeito de arrumar o cabelo, o passar do rímel ou o escovar os
dentes, tudo robotizado. Havia perdido a naturalidade de sempre, os risos
incertos, os beijos sonolentos, e os sorrisos espontâneos. O café deixado na
caneca favorita sobre a mesa, e o bilhete. Detalhes pequenos, e outros grandes
também, que nem toda aquela casa poderia guardar, tanto sentimento junto, dos
bons e dos piores, que nem aquela cama poderia aguentar. Era pra repor
energias, se carregar, sopro de amor, pequenos sussuros, nossas histórias, que hoje
já nem importam.
Meu
amor, tudo bem, eu sei que não foi sua escolha, mas temos mais tempo? Queria
saber porque paramos de agir daquele jeito. Será que foi a maneira de gritar em
todas as brigas por uma toalha no chão no meio da minha bagunça? Pode ter sido
então, culpa daquele casaco cinza que joguei sobre você na última discussão,
talvez a cor dele tenha resolvido combinar com a daquela nuvem que vinha vindo,
era a tempestade. Acabou tudo alí, com vidros espalhados, lágrimas caídas e
pedaços de coração por toda parte.
Os dias
voltaram a ser azuis como sempre foram, eram meus olhos cegos de culpa que não
se permitiam ver com clareza quem éramos e o que fizemos conosco nesse tempo
todo. Elemento essencial esse tal de tempo que faz tudo ser doloroso e tão
forte no final.
Não vamos
enumerar momentos que foram bons e fizeram falta, eles agora já nem cabem mais
nas possibilidades, não podemos nos enganar, mas se não for mais do que quero
ser, então prefiro continuar com meus dias cinzas, pra combinar com o casaco.
Vou
vivendo e morrendo aos pouqinhos todos os dias, somos nós não é? Nunca me
permitiria voltar pra onde eu estava, mas quero sempre lembrar de quem era, pra
saber quanto mais posso ser, sendo que não temos limites. E mesmo que entre
dias cinzas, viver direito é o que nao pode faltar.
Seguindo aqui também.Lindo texto... deu um aperto no coração de identificação.
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